domingo, setembro 23, 2007

O tédio da realidade

Esta noite o telefone amarelo com toque de sino que trouxemos do País de Gales chamou. Ninguém fez questão de atender nos primeiros dezessete toques porque essa linha só recebe ligações de tele-marketing, geralmente com oferta de pacotes turísticos. Gostam de viajar, os Australianos.

No vigésimo-primeiro toque a Debbie atendeu. Torsten, Alemanha. "Você ligou errado", foi a resposta da Debbie. "Não", insistiu o interlocutor, "aqui é o Torsten, ligando da Alemanha. Quero falar com o Simon". Ah, bom.

Até então o resto da casa ainda estava desconfiado, principalmente o Simon recebendo uma chamada Domingo à noite, em um telefone que ninguém tem o número. O Torsten tinha anotado da última vez que falou comigo e agora estava nos telefonando. Organizados, os Alemães.

O choque cultural entre o descaso carioca (brasileiro?) e a austeridade germânica em relação a compromissos quase terminou nossa amizade em uma ocasião. A mensagem de texto no meu celular vociferava a angustiante incompreensão que todo gringo sofre nesta situação: "Se você fala que quer encontrar e depois desaparece não faz sentido, eu não entendo, é ridículo, você é louco?"

Torsten está entediado com seu trabalho. De volta à Alemanha depois de um ano viajando, trabalhando e conhecendo a Austrália com seu visto de working holidays, ele sente falta daqui. Deve ter ligado para matar um pouco a saudade. Perguntei o que a empresa dele fazia. Com a típica seriedade blasée dos alemães ele respondeu: porcas, parafusos e arruelas.

Não dei bola para a gravidade. "Pô, Torsten! isso deve ser chato pra cacete hein? tá perdendo seu tempo, cara. Vale mais voltar pra Sydney e pedir seu emprego de garçom de volta". Descontraídos, os Brasileiros.

Conformado, ele confessou que era ainda pior: o trabalho dele é escrever relatórios de testes das porcas, parafusos e arruelas. Pusta que parille. Despedi e agora estou aqui louco para ir trabalhar amanhã. Eu não tenho o pior emprego do mundo!

6 comentários:

Unknown disse...

Sobre diferença de culturas, a palavra que meu colega holandes Jurgen,mais usa no dia a dia é "absurdo". Ele se desespera com nosso "jeitinho" de ser. Pobre Jurgen.

Anônimo disse...

Eu também odeio meu trabalho que tem cada vez mais funções operacionais.

Prefiro ser gerente de parafuso na Alemanha.

Ass: Mherden.

Anônimo disse...

E digo mais, esse cara da foto aí tá parecendo o Alan querendo cortar a pobre da árvore do sitio do Ronaldo em Guapimirim. Ass: Mherden.

Anônimo disse...

Foto parecendo com o Alan o que! Fala serio! Se tivesse usando um legitimo kilt ainda vai la...
Alan

Anônimo disse...

O que me causa mais espanto é que eles usam essas roupas mesmo. É sério!
Sheila.

XCondE disse...

Não só usam como se orgulham! vai entender... lederhosen pra gente tem oooooutra conotação haha.