Parte 1 - o Vôo... vôo???
Andradas, MG. Domingo de sol, o dia mais seco de todo o feriado. Depois de uma ventaca animal na sexta e um céu carregado no sabado, domingo prometia um voaço. Asa montada uma galera do rio na rampa combinamos de voar junto. Tirariamos para campinas.
O domingo começou como o sabado, ventaca na rampa que diminuiria até uma velocidade confortável para decolagem no começo da tarde, a diferença é que hoje estava muito mais seco e nem sinal de chuva por perto. Montei a asa perto da cantina, chequei os cabos, os tubos, troquei as pilhas do vario e do GPS, não queria perder a prova do crime logo hoje. 12:30 a galera começa a decolar, paracas primeiro, ralando na frente da rampa, os phodões de asa se animam e eu junto com eles.
Cinto fechado, perneiras engatadas, engate na asa checado, quilha, uma pequena ajuda da patroa no cabo para chegar até a rampa. Um gringo na minha frente e o João na asa que era do Dr. Fabio atrás de mim na fila de decolagem.
Gringo decola e ganha, coloco a asa no ombro, asa nivelada, bico baixo, 1 passo 2, 3, 4, 5 sinto a asa puxar fim da rampa decolei, entrei no cinto, vario faz pipipipipipéééééééééééééééééééé
Que merda é essa??? Olhei para o vario e -4??? tah de saca, volto pra rampa, já bem abaixo dela, tento pegar alguma bolha soltando... nada ainda -4, vou atras de um urubu um pouco afastado ainda afundando -4 olho ao redor tentando encontrar alguma coisa errada com a asa mas não era ela, eu chequei esta porra antes de decolar, chego no urubu, o bicho bate asa e eu bato palmas, xingo o bicho de tudo que é nome e continuo afundando.
Quando olho ao redor me dou conta da gravidade da minha situação, a rampa esta lá em cima e o chão esta tão perto que não consigo nem chegar mais chegar no pouso oficial de norte, o pouso alternativo na casa da Simone, uma chapada íngreme ao alcance, esta com a biruta forte de cauda!!! Perae, de cauda?!?!? Essa porra tah de NO, não é a toa que estou afundando que nem uma bigorna, mas isso não é o problema agora, o problema eh chegar ao chão inteiro. Ao redor só chapadas ingremes com ventão de cauda e muitas arvores gerando rotor. Quase aceitando o fato de chapar que nem uma mosca na parede tomando porrada de todo lado, olho pra baixo e vejo uma casinha no topo de um morrinho com uma arvore perto, pouso curto mas parece uma subidinha de frente para o vento sem arvores pra provocar turbulência, é nesse que vai.
Barra no peito, asa acelerada, cinto aberto (alias nem cheguei a fechar), fiz a base lambendo as arvores no inicio do "pouso", entrei queimando, em posição de pouso, asa perdendo energia, arrasto na mão, fim da subida chegando rápido, decidi que do topo do morro eu não passava, ia comandar um stall sendo a hora certa ou não.
No fim da subida a asa ainda tinha alguma energia, comandei o stall, ela subiu um pouco e na descida virei tatu-bola. O vento de frente deu uma amortecida na queda e me deixou o topo do morro com a asa de bico no chão, o crash até que foi suave!!!
Asa inteira e piloto inteiro, levo a asa para debaixo da arvore e olho o cronometro do vario, 2:57 min, acho que fiquei uns 2 min na rampa esperando minha vez e orgulhosos 57 segundos de vôo. PQP!!!
Olho pra biruta da casa da Simone e ela realmente esta de NO, segundos depois estaria de N de novo :S
Bom, vejamos pelo lado bom, nem sequer um arranhão, agora vamos ao problema numero 2, como eu saio deste buraco.
Parte 2 - procurando o resgate
Me sentindo em um episódio de "Bear - A prova de tudo" do discovery channel olho ao redor avaliando a situação. Avisto uns parapentes pousando no oficial de norte não muito longe de onde estou, tracei uma reta até onde os parapentes estão e comecei a andar naquela direção, deixei asa e o cinto debaixo da arvore, vesti a manga de vôo pra proteger do sol, camelback, coloquei uma camisa na cabeça e comecei a andar.
Logo do outro lado do morro encontro um casebre, meio abandonado, bato palmas, chamo por alguem mas ninguem responde, uma breve bisbilhotada pela janela mostra que a casa esta abandonada, continuo andando a boa notícia é que que a caminhada é morro abaixo, passo por uma porteira fechada e continuo caminhando até uma bifurcação. De um lado fechado com uma porteira e do outro caminho aberto cruzando um corregozinho, vamos pelo aberto claro.
Um pasto enorme se revela com muitas vacas, continuo andando beirando a parte mais baixa por uma trilha, chegando perto das vacas um grupo delas se assusta com minha presença, todo o rebanho olha para mim, acho que já vi isso antes na tv, "elas correm em bando na direção da ameaça como forma de defesa". Parei, comecei a caminhar lentamente de volta para o lugar de onde vim, viro de costas e ouço cavalgadas em bando, olho de volta vejo as vacas correndo na minha direção, começo a correr tambem, PQP vaca corre rápido pakaralho, elas estão se aproximando de mim e eu da maldita porteira, me jogo por cima do córrego para o outro lado da cerca e as malditas param. FDPs, c´s não perdem por esperar, vou comer vcs amanha no McDonalds.
De volta a bifurcação tomo o único caminho que me resta, a porteira fechada. Passo por ela e dou no quintal de uma casa, sobe um frio pela espinha e uma vozinha vem no meu ouvido dizendo "não perca tempo aqui", uma torneira aberta esta enchedo a caixa d´agua, continuo pela estrada, encontro o que parece ser a garagem. Continuo caminhando, a estrada entra por um caminho tortuoso por dentro da mata fechada mas sempre ladeira a baixo, começo a ficar preocupado em me perder ou não ser encontrado pelo resgate, acabei deixando o radio no cinto. Eventualmente alcanço o que parece ser a porteira principal da casa de aço com um cadeado enorme fechado e uma placa do outro lado que não consigo ler. Pulei a porteira e leio a plaqueta do outro lado escrita assim: "Cuidado, cão anti-social". Ótimo, acabei de passar por uma fazenda guardada por um cão anti-social, e vou ter que voltar para a fazenda mais 2 vezes para resgatar minha asa. Bom, penso nisso depois, primeiro achar o resgate.
Continuo andando e começo a ouvir um carro cantando pneu e buzinando, ótimo civilização, pessoas, alguem que pode me dar uma carona até a estrada de acesso a rampa. Ao me aproximar do carro vejo que o mesmo, ao que parece, deu ré em uma pequena ponte e caiu com uma roda fora da ponte, esta atolado, só não caiu porque o córrego que passa embaixo é bem ralo mas dali ele não sai sem ajuda. Vou chegando mais perto e vejo racks de asa-delta no topo, show um voador ou resgate eu ajudo ele a sair da merda e ele me ajuda a sair da merda, chegando mais perto noto que é uma parati, com uma mulher no volante que parece muito com a minha mulher, e pensando bem, o carro parece muito com o meu. Chegando perto do carro vislumbro a situação com um semblante de PQP eu não acredito, é o meu carro.
Resumo da situação: Depois de um voo de 57 segundos num dia em que provavelmente todo mundo numa hora dessas esta em camipnas ou a caminho de lá, minha asa esta pousada dentro de uma fazenda trancada, guardada por um cachorro anti-social invisivel e um monte de vacas loucas e meu carro esta atolado em um córrego. O que mais pode dar errado...
Parte 3 - Resgatando o carro, a asa e quem mais precisar de uma mãozinha...
Resgatar o carro do buraco até que foi fácil, com o trafego que passa pela subida da rampa arranjar um grupo de voluntários não foi problema, dois levantaram a trazeira, dois levantaram a dianteira e em pouco tempo estavamos fora do buraco.
Agora o problema em questão, buscar a asa! Primeiro passo, coletar informações, fiquei no mínimo uns 15 minutos andando pelo terreno da casa não vi cachorro nenhum ou ele não me viu. Todo mundo que eu perguntava dizia que a fazenda fora vendida para um criador de gado (o que explica as vacas) e que o antigo dono realmente possuia um fila no quintal que já dilacerou o braço de alguns pilotos (essa mania irritante que voador tem de tocar terror na situação) mas que agora ninguem mais sabia se tinha cão ou não.
Portanto o resgate da asa se resumia a duas hipóteses:
1- Não existe cão: ótimo, a gente entra desmonta a asa e volta, coloca ela em cima do carro e vamos para casa
2- Existe cão mas ele não me viu: então a gente entra, imobiliza o totó, desmonta a asa e tras ela pro carro, não necessariamente nessa ordem, simples né :s
Bom simples de falar não de fazer, a ideia de encarar um fila não era nada animadora, mas abandonar a asa... jamais.
Dirigimos até a entrada da fazenda, a porteira com a placa do cão, peguei umas barrinhas de cereal, doritos e 1 litro d´agua. Enrolei a capa grossa de chuva no braço esquerdo e dei a barra lateral reserva da asa para a minha mulher. A ideia era, caso o encontro com o toto fosse inevitável, primeiro tentar subornar o bicho com comida, se ele atacasse daria o braço enrolado na capa para ele morder enquanto Tatiana baixava-lhe a porrada com a barra lateral reserva da asa até os miolos do bicho sairem pelas orelhas. Tomamos folego, pulamos a porteira de aço e começamos a caminhada em direção a casa. Delimitada a frente pela garagem e por tras pela porteira para o lugar onde pousei, decidimos que atravessariamos a casa numa passada só e pelo mesmo caminho que vim. Se houvesse cão e ele não me viu, farejou, sentiu, sei lá talvez o caminho que tomei tenha alguma relação. Atravessamos a quintal da casa com o C* literalmente na mão. Passamos pela porteira um pouco mais aliviados e chegamos ao casebre abandonado e encontramos a asa exatamente onde ela estava, desmontamos a asa a 4 mãos ( Tatiana esta boa nisso :) ), 10 minutos depois a asa estava empacotada e pronta para a volta, cinto nas costas, patroa segurando em um ponta e eu na outra e la vamos nós. Passamos pelo casebre, pela porteira e chegamos no quintal da casa novamente. Apesar de estar mais calmo e começar a acreditar que não haveria nenhum cão, não pude deixar de notar que agora eu estava carregando uma asa e um cinto, minha capacidade de defesa caira muito, era um alvo fácil para o cão anti-social. Atraversamos a casa, e chegamos na porteira de aço. Colocamos a asa no carro, o cinto na mala e sentamos no chão exaustos da caminhada. Pronto tudo devidamente protegido e empacotado, agora pode até chover pensei... E a chuva desabou como que obedecendo meu comando, corremos pra dento do carro, Taty olha pra mim com cara de reprovação e segue o seguinte dialogo...
(chuva desabando lá fora)
ela: Onde os outros pousaram
(PQP não sei o que é pior a merrecada ou a ideia que todo mundo esta em campinas)
eu: acho que em campinas
ela: tudo bem a gente tah morando aqui perto, c tenta de novo outro dia
eu: fantástico desempenho...
ela: da próxima vez pousa no oficial
eu: sem dúvida
ela: semana que vem a gente vai onde eu quiser...
(ai meu Deus...)
eu: aonde vc quiser
ela: vamos embora???
(chuva comendo lá fora)
eu: ainda não, falta um detalhe... eu não amarrei a asa..............
FIM
Lição do dia: Vôo livre tambem tem seus dias de fracasso total hehehe
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