domingo, setembro 09, 2007

Drogas

Fico feliz de ver o discurso sobre as drogas mudando no Brasil e na Austrália. Li ontem uma reportagem no SMH que resolvi traduzir, ainda que meio nas coxas. Link para a reportagem original.

A hipérbole pode alucinar da mesma maneira se a mensagem for ignorada
Lisa Pryor
8 de Setembro de 2007

Muito obrigada, Steve Fosset. Aqui estava eu, nesta mesma coluna semana passada, escrevendo sobre como usuários de drogas recreacionais não são diferentes dos aventureiros que arriscam suas vidas à procura de emoção. Então Fosset cai, como um avião dos céus de Nevada, no meu colo para provar meu ponto. Enquanto a busca pelo milionário desaparecido continua pelo terreno rochoso ao sul de Reno, minha imaginação se desvia para considerar como este acontecimento teria sido noticiado se ele tivesse sido derrubado por drogas ao invés de um mono-motor Citabria Super Decathlon.

Perguntas surgiriam. O que poderia ter de errado com um milionário que aparentava ter tudo na vida e ainda assim se arriscava loucamente em aviões e balões? Como podemos impedir que outras pessoas de meia-idade pensem que esportes radicais não são arriscados? Seria o sistema de saúde culpado por não identificar o problema da crise de meia-idade?

O obituário, se, Deus nos livre, acontecer, seria morno. Seria irresponsável glorificar um homem cuja dose de adrenalina era mais importante que sua própria vida.

Estou batendo na tecla das drogas mais uma vez esta semana. Na semana passada clamei por um debate sobre as drogas que reconheça os prazeres e os riscos das drogas recreacionais.

Enquanto é louvável descorajar adolescentes de estragarem seus cérebros em desenvolvimento, drogas em festas são mais passíveis de serem usadas por adultos, alguns deles sensatos. A pesquisa de 2004 para estratégia de drogas em domicílios mostrou que a idade típica em que se experimenta ecstasy é 22.8 anos. Para cocaína, 23.5. Até mesmo para maconha, 18.7.

Minha preocupação é que as campanhas de terror hiperbólico do governo deixem as pessoas menos seguras se elas começarem mesmo a usar drogas aos 22.8 anos. Quando a mensagem anti-droga é demasiadamente lúrida, toda a mensagem é ignorada. Quando alguém experimenta uma droga e descobre que nem sempre ocorre náuseas e tontura, levando à prostituição e morte, é fácil esquecer que as drogas devem ser tratadas com cuidado, como porcelana ou arraias.

Usuários podem terminar se apoiando na cultura popular da droga, ao invés da ciência, para manter sua segurança. Por exemplo, já ouvi pessoas dizerem que "cocaína não dá overdose". A verdade é que cocaína foi a causa da morte de 10 pessoas em 2005, de acordo com o departamento de estatísticas.

Também já ouvi pessoas dizerem que "ecstasy é inofensivo". A verdade é que estudos mostram que pode haver uma relação entre ecstasy e perda de memória. Um estudo da Universidade de Amsterdam, liberado em Junho, revelou que o ecstasy afetava a memória verbal mesmo quando utilizado por pouco tempo. Essa relação não foi provada conclusivamente mas qualquer um que tenha tentado contar o troco até 24 horas depois de tomar um comprimido provavelmente suspeita que há alguma verdade nisso.

A apologia indiscriminada às drogas é tão errada como a condenação indiscriminada. Mas mesmo que existam conseqüências para a saúde, colocar usuários na cadeia não ajuda ninguém.

Que tipo, então, de política deveríamos aplicar às drogas? Como podemos reconhecer que ingerir esses prazeres químicos pode ser uma escolha racional ao mesmo tempo que reconhecemos que as drogas destroem as vidas de algumas pessoas? Como podem as leis beneficiar os responsáveis e também proteger os incautos?

Deveríamos abolir as sanções criminais para uso pessoal de drogas e, ao invés disso, focar no tratamento e aconselhamento. Deveríamos ter penas para pessoas que usam drogas e dirigem ou que fornecem drogas para menores de idade. Enquanto estamos nas sugestões, deveríamos proibir doações partidárias por parte da indústria química, tabaco e álcool para que o governo não favoreça as drogas que são legais atualmente.

Eu plagiei tudo isso do Partido Verde (Greens). Adoro uma isca para hippies tanto quanto o próximo, portanto fiquei surpresa ao me ver concordando com sua política para as drogas.

Fiquei surpresa sobre quão moderadas foram as respostas sobre os comentários do Governador, Morris Lemma, quando disse durante a última campanha eleitoral que a política do partido verde era uma tentativa de "descolar publicidade barata", "um absurdo, uma política ridícula e nojenta" e "desiquilibrada e estúpida".

Os insultos são mesmo uma pena. Se ao menos alguns de nossos líderes políticos tivessem a coragem e audácia do Steve Fossett.

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