sexta-feira, julho 06, 2007

O mercado

Pela primeira vez desde 1997 estou procurando emprego. Não sei se no Rio foi sorte ou talento que sempre trouxe a oferta para mim; talvez a rede de contatos, provavelmente o pot-pourri, difícil saber. Vindo pra Sydney calculei meu pé-de-meia para durar três meses sem emprego. Gastei pouco e comecei a trabalhar como cozinheiro em dois meses, o dinheiro deu de sobra. Para quem interessar, calculei gastar em torno de AU$400 por semana (200 moradia, 100 comida, 100 transporte/diversão e o que mais sobrasse).

Em Março deste ano, voltando de férias, não procurei emprego com muita gana. Dei umas olhadinhas, mandei alguns currículos, mas tudo sem muito compromisso já que a Q-Free me chamara para um "frila". Em Abril comecei a procurar com mais gosto.

Aprendi a evitar as empresas gigantescas de recursos humanos. Vagas anunciadas pela Hays eu nem olho mais; todas as posições de TI passam pela mão de uma tal Kristie Comarmond, que conheci no ano passado e me colocou numa entrevista com a Bulletproof. Não entrei na empresa simplesmente porque, quando perguntado sobre meus defeitos, disse que não gosto de ser interrompido. É verdade - odeio ser interrompido. Acho que foi uma bênção disfarçada. Tenho impressão que aquilo seria uma reencarnação da Cipher.

Mas me desviei do assunto. Evito a Kristie porque todos meus contatos com ela esse ano começaram e terminaram assim: "me manda o seu currículo e a gente vai se falando". Seu currículo, nesses mamutes do RH, vai para uma base de dados e por lá fica, junto com outros milhares. Muito por acaso alguém vai esbarrar com seu CV, talvez porque uma busca encontrou aquelas dezenas de acrônimos que você colocou no fim: DBA, CCNA, MCSE, CISSP, SQL, RHCP, A+, MVP, PQP. Uma vez por ano, caso seu currículo preste, algum estagiário vai te ligar para saber se você ainda pode ser encontrado, caso contrário DEL no seu arquivo.

Aprendi a ligar para o agente antes de mandar meu currículo e puxar um papo. Qualquer coisa vale, eu invento. Geralmente pergunto se a vaga é nova ou de alguém que saiu. Se saiu, por quê? Onde fica a empresa? Quem controla? É SA? Limitada? Holding? Quantos empregados? Qual a possibilidade de trocar de emprego internamente? O importante é fazer a ligação durar três minutos ou mais; quando seu currículo chegar a pessoa vai lembrar "ah, esse é o chato que me ligou antes". Mas vai lembrar.

Outra coisa: paciência. Os Australianos são tranqüilos; muito tranqüilos. Demoram até duas semanas para ligarem de volta, mesmo que o emprego seja para começar o quanto antes. E, veja bem, para quem está em casa de papo pro ar duas semanas são uma eternidade mas é importante não aceitar qualquer oferta e se arrepender depois.

Por último, duas épocas ruins para procurar emprego: no começo e meio do ano. Em Janeiro aqui também não se faz nada e, em Junho, é o final do ano fiscal. Muitas empresas vão esperar o final do balanço e o novo orçamento para fazerem novas contratações.

Até agora foi isso que aprendi sobre procura de emprego em Sydney. Espero que ajude alguém. A mim não ajudou :-D.

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