Lembro de muita areia, coqueiro, serviçais e do cachorro-quente que elas faziam. Era daqueles com molho de verdade; pimentão, tomate, cebola, e não dessas misérias que vendem em estádio de futebol. É Genial como conseguiram fazer todo mundo achar essa bosta uma delícia.

A diferença da versão pernambucana, porém, estava na maneira como as salsichas eram trituradas, formando uma espécie de bolonhesa com uma camada de gordura, que flutuava no topo da panela.
Anos depois nossas férias mudaram para Angra dos Reis, e foi lá que o Bud resolveu relembrar esta tradição culinária de sua terra. Cachorro-quente pronto, ele não estava satisfeito: faltava a gordura flutuando.
Não tem problema! abriu uma lata de óleo Liza e despejou metade na panela. Mas não ficou igual. Comemos e gostamos mas o doutor ficou encucado - "não sei como elas fazem essa gordurinha".

Quem fez caldo de carne, nesse momento já sabe de onde vem a "gordurinha". Enquanto os ingredientes fervem, borbulhando por horas em fogo baixo, a gordura dos ossos e restos de carne flutua para o topo da panela. Entre cada completada no nível da água essa gordura é retirada do caldo - o que eventualmente sobra se solidifica quando o caldo vai pra geladeira e pode então ser retirado.
O que faltou no cachorro-quente do Dr. Marden não foi óleo; foi paciência. Tivesse deixado ferver por uma ou duas horas a santa gordurinha daria o ar da graça.
2 comentários:
Caríssimo Tiago, nem sabia que você tinha chegado a conhecer o cachorro-quente nordestino.Também não sabia que vocês tinham tentado a versão Méia ( salsicha moída).
Então lá vai minha versão:
Quando morei em Recife o cachorro-quente era esse aí. O hotdog, com a salsicha inteira, isso era outra coisa, e ninguém dava bola. Cachorro quente era o máximo!E não era salsicha moída não senhor.Era só carne, alguns com carne e linguiça e outros carne e salsicha. Minha mãe sempre conta uma história sobre essa delícia, que por sinal ela e meu pai detestavam. Estavam os dois num açougue em Boa Viagem, quando chegou uma moça para comprar carne moída. E destacou enfática que queria uma carne "com bem gordura" porque era para as crianças - era a festinha de aniversário do seu filho.
Parece humor negro. Mas era assim. Nas calçadas , fora dos estádios, dos shows e dos clubes ficavam os ambulantes com aqueles tabuleiros ferventes de carne moída com a gordura vermelha de tanto colorau na superfície. O cheiro era das coisas mais sublimes que guardo na caixinha de assuntos pernambucanos da memória. Muito cominho, muito colorau, coentro, "cibola", tomate e pimentão bem miudinhos. A gente pensa sempre em fazer um qualquer dia desses aqui em casa. Mas que não vai ter graça, isso não vai não. Vai faltar o ingrediente que dá a alma ao bicho: O Recife em volta!
Beijo
Lena
Caraca, quê isso nessa panela?
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