sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Blah, blah e mais blah

Acho que esse foi o maior intervalo de tempo que passei sem escrever por aqui. Mesmo quando estava de "férias" em Cairns tive tempo - e assunto - pra escrever algumas mal-traçadas.

Ultimamente minha rotina não tem sido digna de publicação, mesmo que somente para três leitores (mamãe, vovó e eu mesmo). Para não deixar a peteca cair, estou aqui sentado no Everywhere internet, um sol de mais de 30 graus lá fora, pescando o que "blogar" (odeio esse termo).

Meus dois dias de folga semanais, separados pelo fim-de-semana, segunda e sexta-feira, são destinados ao ócio e às tarefas domésticas. Hoje me comprometi a consertar o vazamento da mangueira de água quente da máquina de lavar, que de pequenas gotas evoluiu para um jato de vapor. O conserto óbvio, de preguiçoso, foi fechar o registro e somente abrí-lo ao necessitar de lavagem com água quente. Porém, o remorso da conta de gás me fez ir até a loja de ferragens mais próxima, comprar um alicate e fita veda-roscas.

Até meia hora atrás eu não fazia idéia do nome dado à fita branca de teflon que usamos para vedar roscas e chamamos, apropriadamente, de fita veda-roscas. Meu plano de ação era passear pela loja, buscando nas prateleiras por um alicate e um rolo da fita, mas essas lojas de ferragens parecem estar sempre num ponto de singularidade quântica, permitindo armazenar dezenas de milhares de quinquilharias em poucos metros quadrados. Se você está entediado e só continua a ler para saber como se chama fita veda-roscas em inglês vou poupar-lhe o sofrimento e dizer logo: o nome é thread tape. Porque ela é usada nos threads (sulcos, caminhos) do cano.

Enfim. Minha rotina reduziu-se a isso: trabalho, mais trabalho em casa e leitura. Cansado, sem saco pra sair, comecei a ler obsessivamente, quase 2 livros por semana. Não que eu esteja infeliz ou triste ou desanimado - pelo contrário, estou muito satisfeito com o nível de conforto que tenho agora - mas, convenhamos, isso não rende um post por semana no blog, que dirá um por dia, como eu fazia há alguns meses atrás.

Para ficar registrado (além de notícias pra família e amigos, decidi que isso aqui também vai servir pra refrescar minha própria memória de merda, excluindo-se, claro, os eventos mais picantes de minha jornada (que pretensão)), procurei por empregos em TI há 3 semanas atrás. Recebi telefonemas e e-mails de resposta, todos com negativas. Acontece que, apesar de todo programa governamental de imigração de mão-de-obra qualificada - eu - e da imensa demanda desta mesma mão-de-obra, as empresas têm receio em contratar estrangeiros "virgens".

Por experiência própria, relacionando-me com outros imigrantes na cozinha do Bourbon, percebi que a cautela é justificada. O nepalês Bichal (é sério - o nome dele é esse mesmo) fala e compreende um inglês satisfatório, melhor que o do "bangladeshiano" Rana, mas com um sotaque "fonte-da-juventude", que faz parecer que ele tem 5 anos de idade: mash potato vira "mas potato" e chef vira "sef". Ele me irrita profundamente mas não vou tratar disso agora. (Tá bom. Só uma prévia: tudo que você termina na cozinha ele olha pro produto final, depois pra você, e diz "beautiful, sef". Acho que se eu cagar na bancada e polvilhar parmesão em cima ele vai dizer "beautiful, sef".)

Continuando, sobre o receio das empresas em contratar estrangeiros "de primeira viagem". Comentei isso com um agente de RH e ele disse para eu não me preocupar com isso porque meus communication skills são bons e, portanto, era apenas questão de encontrar uma vaga com meu perfil. Quem me contou deste receio foi uma outra agente de RH. O placar fica, então, "Receiosos 1 x 1 Não-receiosos".

Nas últimas semanas não fiz outras tentativas por alguns motivos. Esta é a segunda vez que tenho que procurar empregos - todas minhas outras posições (opa!) foram ofertas - e quando você ocupa todo seu tempo livre melhorando seu currículo, escrevendo cartas de apresentação e oferecendo-se para empregos, começa a ficar agustiado. Não quero e não preciso ficar angustiado. É claro que o prospecto de ganhar três ou quatro vezes mais que minha atual receita é tentador. Vou poder mobiliar minha casa decentemente, sair sem muito controle de gastos e fazer um pé-de-meia. Quem sabe até comprar algumas camisas pólo cor-de-rosa, cuecas da moda, calças frouxas e virar playboy, andar por aí com o cofrinho a mostra, tal qual um legítimo minhoco de Sydney.

Mas, para ser honesto, gosto do meu empreguinho de mestre-cuca. É descontraído, estou aprendendo coisas novas, gosto de cozinhar, tem sempre mocinhas novas na equipe, sou considerado um bom cozinheiro e não tenho muitos pepinos para resolver (com perdão do trocadilho). E mais: vez por outra "emprestamos" do bar red-bulls, cervejas e outras besteirinhas para animar o turno, e mesmo quando não há oportunidade existe sempre o estoque de vinho branco e tinto da cozinha (que, diga-se de passagem, são bem melhores que os consumidos nos albergues). Sem falar nas constantes experiências culinárias, minhas e dos outros cozinheiros, cada qual com sua especialidade.

Porém, como diz o Chico Buarque, "eu posso vender - quanto vai pagar?". Sim, amigos e parentes, a ganância por mais dinheiro me faria voltar para as divisórias plásticas, ar-condicionado e chefes do Dilbert. Porque, feliz como estou, sinto falta do meu computador, meus seriados e desenhos animados, minhas farras na noite, minha moto, meu som e mesmo o número confortável na minha conta-corrente, que além de pequenos mimos me permite despirocar e viajar para o outro lado do mundo. De novo. :-)

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sinto muuuuita falta de voce por aqui se divertindo. Ai, ai.

Anônimo disse...

Gostei do seu desabafo. Pode desabafar...Faça de conta q estamos com nossos ombros ai, bem pertinho de vc.....

Anônimo disse...

Gostamos das aventuras do XcondE, mas.... Não estaria na hora de retornar à terra natal???? Sentimos falta de você.
bjos. Bia & Ralf. Obs: Suas encomendas estão a caminho via navio (demora mas chega um dia).